No alto, em plena noite, a lua cheia esparge seu brilho
E o viajante, ferido, insiste em avançar, cambaleante
Sua história passa como em uma busca sem filtros
Lhe assaltando a alma de cavaleiro, sem armas, errante.
A morte está ao seu alcance, como abutre a planar
Ronda-lhe a face macerada pela fome e mina-lhe a última gota
de vida
É um condenado a morrer naquela estrada em que um só é
jantar
De tantos outros que se fazem lobos na noite por todos
temida.
Nenhuma chance tem o pobre coitado
Já perdido está como quem não encontra nenhuma saída
É a maldição da noite que lhe tolhe a razão de condenado
A morrer como cão em uma estrada assaltada pela matilha.
Como a vida se fez morte, eis toda a essência da nulidade
Um morto que apenas caminha esperando sua última parada
Cairá como caem todos os que respiram sob a mais pura
maldade
De uma caterva ensandecida que fará de suas vísceras a
bandeira desfraldada.
Nem mesmo se lembrarão que um dia existiu cavaleiro de
tantos ideais
Será o que se foi em uma estrada vazia em uma noite por
todos temida
E continuarão a dançar suas danças de alienados em doidas,
loucas espirais.
Ailton São Paulo