Sou esta terra posta às
margens de um rio morto
Sacrificada pela seca e
redimida pelo amor
Daqueles filhos que me
querem sã e sem temor
Das coisas que me
reservam um futuro vicioso.
Como cicatrizes trago no
rosto exposto
Décadas de maus-tratos e
ainda assim vivo
Como todas as mães
sofridas que de tanto desgosto
Chora às escondidas seus
filhos perdidos.
Arrancam-me cada pedaço
de carne
Saboreiam minhas
entranhas e bebem meu sangue
Como urubus rondam os
restos que lhes farte
E buscam ainda mais tudo
o que por maldade me sangre.
Quanta injúria e
vilipêndio!
Do meu ventre nasceram
todos
E hoje me entregaram à
sanha de estrangeiros
Para ser escrava de
vícios horrendos.
Choro como as mães
sofridas
Mas não amaldiçoo meus
filhos
São crianças por mim
paridas
Suas ações apenas é
tudo que critico.
No entanto, ouçam meu
grito
Matam-me aos poucos a
cada dia
Como posso, filhos
queridos,
Ser mãe amorosa de quem
me faz arredia?!
Sacrificam-me no altar da
ganância
Roubam meus sonhos e
minha dignidade
Mas, eu imploro, me
resgatem da ignorância
E me façam a mais bela e
próspera de todas as cidades!
Ailton São Paulo