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PAX ET CONCORDIA

PAX ET CONCORDIA
Pedro Américo

UM RIO CANTA SUA FÚRIA




Sinto-me sufocado, rendido
Às minhas margens restos poluídos
De um modo de vida sem regras
Como chagas tristemente abertas.

Minhas águas já não correm tão livres
Apunhalam-me diariamente, açoitam-me
Como se eu fosse feito de um triste
Modo que a todos desse o direito de escorraçar-me.






Aberto e esquecido jamais se dignam de olhar-me
Fico como se não existisse, um nada tolerado
Na azáfama tremenda de um povo ingrato
Fio de água sem serventia, todos a ignorar-me.

Toleram-me, este povo, mendigo que sou
Nenhum respeito possuem a quem lhes deu raízes
Às minhas margens o ato, fato que ficou
Ruas inteiras de escarro, urina e meretrizes.

Destroçaram minhas matas ciliares,
Já não possuo margens para expandir minha alma
Me deixaram com o resto de um leito base
Roubaram-me, até mesmo, o encanto de um espelho d'água.

Meu sangue esverdearam, me poluíram
Já não efluem de mim agradáveis odores
São aqueles fétidos cheiros das muitas dores
Que me impõem um povo ainda corrompido.

Não se dão conta que estou morrendo aos poucos
Humilhado, perdido, sufocado, cansado, melancólico
Deveria encantar, ser amado, e não lama de porco
Chafariz de vermes, cama de dejetos sólidos.

Sob um céu de luz intensa me ponho a orar
Rogo à deusa das estações que a subverta
E em pleno verão há frio e a água a jorrar
Lembra ao povo que há força maior e que não se esqueça.

Então, lembram-se eles que existo e lhes dei a vida
Minhas águas tomam deles minhas margens invadidas
Revigoro-me uma vez mais, forte, bravo, cabeça erguida
Cavaleiro a ceifar ruas, casas, sonhos e histórias esquecidas.

Estarrecidos ficam e se lembram que simplesmente existo
Sou o que lhes deu o nome, a origem, mas que já existia
Sou filho de uma deusa que é senhora do tempo, e isto
É a razão pela qual minhas águas transbordam de agonia.

Agora, pois, voltam a se lembrar que sou Rei
Que não podem me sufocar e ser o que fique
Apenas a esperar que tenham o respeito ao muito que lhes dei
Porque, por todo o tempo, sempre e tanto, serei o majestoso Rio Jacupipe.


Ailton São Paulo

TROPEIROS POBRES DE SÃO PAULO

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