Um uivo ecoou para além das montanhas
Na estrada encharcada de lama sozinho caminha
Já agora um pobre coitado que não mais tinha
Uma só côdea de pão que lhe saciasse as entranhas.
Morto estava sem o saber aquele que só viajava
Um errante perdido que já não mais distinguia
Toda partida de uma chegada e para sempre se via
Preso nas malhas de um destino amaldiçoado.
Suas vestes eram apenas e tão somente farrapos
Sobre a face uma espessa barba cobria
Aquilo que um dia tinha sido, sem dúvida, e de fato
Um rosto que, por certo, já sentiu a brisa que acaricia.
Mas as lutas inglórias de um amor renegado
Fez-lhe se desesperar e saiu como quem sai ao campo
Havia angústia em sua alma de um só canto
Jamais ouvido, ou sequer entendido, pelo ser amado.
Na loucura, pois, de tantos desenganos
Buscou em caminhos longos e desconhecidos
Aquela fuga que é uma só e ainda mais razão de tantos
prantos
Na alma dos que, por amor, foram enlouquecidos.
Ailton São Paulo
